Senadora defende direitos dos povos indígenas de promoverem atividades econômicas em áreas demarcadas
Comissão debateu mudanças na legislação para permitir exploração pelo povos que ocupam as reservas.

Em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado que debateu a realização de atividades econômicas em áreas indígenas, nesta terça-feira, 15, a senadora Damares Alves (republicanos-DF) defendeu que os povos têm direito de usufruir da terra que ocupam.
A regulamentação de atividades econômicas em terras indígenas é objeto de regulamentação por meio do projeto de lei (PL 6.050/2023) e o debate é para saber se a medida terá possíveis impactos ambientais e sociais de atividades econômicas sobre os indígenas e suas terras.
Para a senadora, a ampliação e o incentivo ao empreendedorismo podem representar um marco na sustentabilidade, na prosperidade e no fim da dependência das mais diversas etnias a programas governamentais de transferência de renda e de alimentos.
“Nós temos aqui na plateia estudantes de odontologia. E aí vou além do uso da terra, tem indígena trabalhando na área de tecnologia. E aí vem a pergunta. Eles podem empreender dentro da área deles, ou terão que ir para o outro lado da rua para lançar seu próprio negócio?”, questionou.
Demanda dos indígenas
O governador de Roraima, Antonio Denarium, salientou os resultados positivos do apoio do governo estadual à agricultura familiar indígena, num processo que — ressaltou — mantém respeito à cultura, às tradições e à autodeterminação daquelas comunidades.
“Hoje há 200 polos de produção dentro de comunidades indígenas, e o governo do estado dá total apoio e capacitação para o plantio de dez hectares [em cada comunidade]. O governo entra com tudo: trator, plantadeira, calcário, semente, adubo”, ressaltou.
Mas a dependência da ação estatal para a agricultura nas comunidades foi constrastada pelo senador Marcio Bittar (União-AC) com a elevada proporção de terras indígenas no território brasileiro. Ele alertou para o conceito de “proibição de prosperar” que pesa sobre os indígenas.
“Quando você proíbe a pessoa de prosperar, é uma lei antinatural. A tentativa de prosperar, de melhorar sua vida e a de sua família, é da natureza humana”, pontuou.
Lisio Lili, presidente do Conselho Municipal de Direitos e Defesa dos Povos Indígenas de Campo Grande (MS), cumprimentou a disposição de Denarium em apoiar a produção nas comunidades indígenas, mas também criticou a dependência de políticas públicas e pediu respeito aos conhecimentos tradicionais dos povos.
“Estamos falando da autonomia dos povos indígenas, porque é isso que a Constituição diz. Não é o Estado ensinar a gente. Não é o Estado fazer pela gente. (…) Se fosse assim, por que estaríamos em terras indígenas (…) se não é para fazer o que nos faz indivíduos?”, perguntou.
‘Reparação’
Empreendedor da etnia Guajajara, Raimundo Guajajara disse que o direito à atividade econômica nas terras indígenas é uma “reparação de danos” a comunidades que sofrem necessidades e não têm perspectiva.
Ele criticou a atuação do Ministério dos Povos Indígenas e atacou as ONGs que usam os povos originários como “massa de manobra”.
“Não entrou na minha mente [que] os meus ancestrais assinaram um papel para os países estrangeiros, cedendo as terras do Brasil para eles (…) e depois não poder fazer isso e aquilo”, protestou.
José Lucas Lemos Duarte, cacique da etnia Tukano, cobrou parcerias estratégicas e linhas de financiamento para exploração mineral sem danos à natureza e sublinhou que os indígenas não são “coitadinhos”.
“Temos jazidas de potássio na Amazônia. A gente não pode usar por quê? Vamos usar pelo menos pela soberania do país”, disse.
O potássio também foi citado pelo senador Jaime Bagattoli (PL-RO) Bagattoli que o considera um mineral estratégico para a agricultura, mas do qual o Brasil ainda é “refém” de importações.
“[Os indígenas] têm que ter o mesmo direito de qualquer cidadão brasileiro”, afirmou.