Professoras da UFRR aprovam projetos de pesquisa e ganham destaque nacional em edital do CNPq
Uma das pesquisas trabalha com textos orais, poéticos e narrativos de grupos minoritários e a outra busca novas possibilidades didáticas no ensino da engenharia civil por meio de jogos.

Liderados por pesquisadoras da Universidade Federal de Roraima, dois projetos de pesquisa foram aprovados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI) e receberão investimento da Chamada Universal, uma das mais tradicionais da instituição para apoio a pesquisadores do Brasil.
Um dos projetos é chamado “Minorias Sociais e Trânsitos Identitários, literários e culturais entre Amazônia, África e Portugal” liderado pela professora doutora da UFRR, Veronica Prudente. Junto a ela está uma equipe de sete pesquisadoras doutoras da área de Letras e História. O grupo fomenta uma rede de parcerias que reúne duas universidades, UFRR e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e é formado pelas professoras Ananda Machado, Carla Monteiro, Cátia Wankler, Sheila Praxedes, Martha Júlia Martins e Cristiane da Silveira (UEA).

O projeto que captou investimento de R$ 70 mil na Chamada Universal surgiu da experiência acadêmica e pedagógica desse grupo, além do interesse de pesquisa com textos orais, poéticos e narrativos oriundos de grupos minoritários socialmente, como mulheres, indígenas, negros e migrantes. “Buscamos realizar pesquisas para dar visibilidade aos trânsitos, migrações e contatos entre essas diferentes culturas da África, Amazônia e Portugal. Também queremos fomentar mais a pesquisa sobre povos indígenas, quilombolas e as pautas de gênero. Trabalhamos em cima de fontes históricas e de imprensa, livros, textos literários, produções artísticas de uma forma geral para trazer essas vozes de contato”, explicou Verônica.
A professora ainda contou que a temática é de seu interesse desde o doutorado quando trabalhou com as relações entre Amazônia e Portugal. “Foquei nos textos históricos e literários que traziam a realidade da colonização portuguesa na Amazônia e o embate com os povos indígenas. Depois pesquisei sobre a presença portuguesa na Amazônia em que a gente mapeava outros autores, visitas, essas relações em Manaus, Belém. Assim com o tempo fomos agregando outras professoras que trouxeram novas pesquisas e formamos o grupo”, explicou a pesquisadora.
O outro projeto aprovado da UFRR é chamado GeoFun, realizado por meio de uma parceria entre a professora doutora Mariana Ramos Chrusciak, do departamento de Engenharia Civil da UFRR, e a professora doutora Bruna Lopes, da Newcastle University da Inglaterra.
O GeoFun captou recursos de R$ 15 mil na Chamada Universal e foi iniciado em 2021 fruto da observação e prática pedagógica de Mariana com seus alunos. “Durante a pandemia observamos que os alunos estavam bem desinteressados e até mesmo antes disso. Já tem muito tempo que se fala em gamificação na educação. Então desenvolvemos jogos de tabuleiro que podemos aplicar em aula e com isso aplicar a gamificação nas disciplinas do curso voltadas para a área de geotecnia dentro da engenharia civil”, contou Chrusciak.

Mariana destacou que o projeto teve incialmente cinco jogos aplicados junto com os alunos na UFRR e na Newcastle University da Inglaterra. “São jogos de tabuleiro e também cartas. Basicamente a maior parte deles se espelham em jogos clássicos, porém voltados para perguntas sobre determinado assunto e adaptados para o contexto educativo”, afirmou.
Se inicialmente o GeoFun foi fruto da ideia de apenas duas professoras, atualmente a equipe do projeto é composta em sua maioria por jovens doutoras, sendo dez mulheres em um grupo de 15 pesquisadores. “Queremos desenvolver mais quatro jogos. Com a ótima aceitação dos alunos e professores tivemos a ideia de testar em outras universidades e ver o impacto em diferentes regiões. Nós somos de exatas, uma turma voltada para o cálculo e falar de educação na engenharia é difícil. Existe uma certa resistência. Mas nos testes vimos que os jogos possuem potencial tanto que em pouco tempo consegui em 15 dias convidar professores de dez instituições diferentes para compor o projeto que submetemos para o CNPq. Assim fica cada um responsável por aplicar os nove jogos numa sessão, testar tanto com os professores quanto com os alunos e veremos os resultados”, ressaltou Mariana.
Alta concorrência e surpresa marcam recebimento da aprovação
As pesquisadoras revelaram ainda sua alegria com a aprovação em uma chamada que teve alta concorrência pelo Brasil. Em Roraima, apenas três trabalhos foram aprovados. No geral, a chamada do CNPq recebeu 9.757 projetos com 3.064 aprovados, sendo 134 da região Norte. “Foi uma felicidade grande. Esse investimento traz visibilidade grande para nós e para a UFRR e vai propiciar a compra de material, de equipamentos para o nosso laboratório, viagens, material para os nossos alunos de pesquisa. Incialmente queremos ampliar essa rede entre Amazônia e África com os países de língua portuguesa, inclusive, começamos as tratativas com outras universidades de Cabo Verde e Moçambique. Nossa intenção é mexer em outros arquivos, ir para os países africanos”, revelou Veronica Prudente.
Para Mariana, o sentimento de felicidade é o mesmo. “A resposta da aprovação foi de pura surpresa. Eu realmente não acreditava que aconteceria. Fico feliz de ver que conseguimos recurso externo para desenvolver nossas pesquisas. Esse foi o único projeto de geotecnia da região Norte aprovado. A pesquisa que a gente desenvolve aqui é tão importante quanto a de qualquer outra do Brasil e do mundo. A sensação é de que estamos fazendo algo importante e que está gerando impacto”, afirmou.
O que é a Chamada Universal do CNPq?
A Chamada Universal (CNPq/MCTI Nº 10/2023) tem o objetivo de apoiar projetos de pesquisa em qualquer área do conhecimento. A chamada destinou, ao todo, R$ 300 milhões em investimento divididas em duas faixas de investimento: a Faixa A formada por Grupos Emergentes é destinada a equipes de pesquisa com no mínimo três doutores e a Faixa B para Grupos Consolidados é voltada para equipes de pesquisa que possuam, dentre seus membros, no mínimo, cinco doutores, de ao menos duas instituições distintas.
Conforme o CNPq, os valores recebidos pelos projetos poderão ser aplicados em itens de custeio, capital e bolsas de pesquisa nas modalidades Iniciação Científica (IC), Iniciação Tecnológica Industrial (ITI), Desenvolvimento Tecnológico Industrial (DTI) e Apoio Técnico (AT).